Naquela tarde de Verão do séc VIII, as ruas da cidade que hoje designamos de Bagdade estavam particularmente desertas. O calor abrandava a cadência de quase todos. Mas Al-Khwarizmi, intelectual e astrónomo, não parava de escrever. Ele tinha uma curiosidade que o impelia para a descoberta e assim tentava decifrar soluções para vários problemas matemáticos. Considerado um dos fundadores da álgebra, o seu nome ficou célebre.
É que a palavra algoritmo deriva da forma latina de Al-Khwarizmi.
Mas afinal o que é um algoritmo?
O Prof. Arlindo Oliveira, docente no Instituto Superior Técnico, descreve bem este tema no seu recente livro “Ciência, tecnologia e sociedade”.
O algoritmo é, tão simplesmente, um conjunto de passos ou tarefas que, percorridos de forma sistemática, resolvem um determinado problema.
Portanto, quase todos os problemas científicos podem ser transpostos e descritos nesta “receita” metódica.
E não precisamos de ter sempre a tecnologia mais recente. Podemos seguir estes passos usando papel e lápis. Foi assim, aliás, que na escola aprendemos o algoritmo da adição e da multiplicação.
Mas os computadores vieram, de facto, contribuir com um enorme salto evolutivo.
O telemóvel do leitor, por exemplo, é um computador compacto que tem uma enorme capacidade de computação e executa vários algoritmos de forma simultânea e rápida.
Para que isso aconteça há um processo prévio importante em que os algoritmos são descritos numa linguagem de programação e de compilação.
Estando estes passos efectuados o computador executa não apenas um, mas vários algoritmos. Aliás, existem hoje milhões de algoritmos diferentes.
E eles estão quase omnipresentes na nossa vida.
Desde a escolha da próxima série a ver, até ao desenvolvimento dos carros autónomos, passando pela triagem dos melhores currículos, há sempre vários algoritmos envolvidos.
Tal provoca hoje um debate intenso sobre os mais variados dilemas morais e éticos. O leitor, mesmo que não queira, já é parte activa nesta encruzilhada, nem que seja ao deixar a sua pegada digital diária.
No entanto, antes de contribuirmos para o amplo debate sobre a tecnologia não nos esqueçamos que tudo começou, há muitos séculos, com um matemático persa numa tarde quente de Verão.
Luís Monteiro (Médico)
através da Associação Portuguesa de Imprensa