Dá o JORNAL do ALGARVE, nesta edição, notícia da localização das pedras nobres da ermida de Santo António, edificada na vila de Santo António de Arenilha, fundada em 1513, na foz do Guadiana, o que constitui uma descoberta, efetuada por Marco Sousa Santos, que pôe fim a um mistério com mais de quatro séculos.
Hugo Cavaco e Fernando Pessanha, entre outros historiadores, a elas se têm referido, por se tratar do único espólio que restou ao desaparecimento de Santo António de Arenilha e que, em boa hora, Marco Sousa Santos as identificou na Ermida de Santo António, em Castro Marim.
Pelo que se pode ler no mencionado artigo, não restam dúvidas que este canto do Levante Algarvio está carregado de História, tal como toda a região, que urge preservar e defender.
Vem isto, também, a propósito da forma como a cidade pombalina, ex-libris do iluminismo, tem vindo a tratar aquilo que para nós é uma verdadeira relíquia.
Edifícios pombalinos, em adiantado estado de degradação, estão a ser recuperados, aparentemente com algum cuidado nas fachadas mas com a destruição quase total dos seus interiores e, ao que parece, removendo elementos arquitetónicos indispensáveis para a manutenção da sua identidade.
Vila Real de Santo António tem um núcleo histórico que importa preservar, com edifícios de grande importância como é o caso da Antiga Alfândega (razão da existência desta cidade) que, por negociações que contestamos, vai transformar-se num Café, tirando-lhe toda a dignidade que a construção mais importante da cidade merece.
Edifícios não pombalinos, ao serem reconstruídos, fazem-no como cópias da época setecentista, como se não houvesse tempo para além do tempo! E assim se vai descaracterizando uma cidade!!!
A propósito da demolição de uma das, já poucas, casas carismáticas que restam na cidade, escrevi, então:
Vila Real de Santo António é uma cidade ímpar. Ao contrário do normal, nasceu por decreto, foi desenhada e construída com base numa planta, como se de um palácio se tratasse! Uma cidade pombalina iluminista, feita à semelhança da baixa lisboeta.
Mas a História não pára! Há História para além de Pombal! Vila Real de Santo António permaneceu até aos dias de hoje, passando por todos estes anos com altos e baixos, como todas as cidades. Aquilo que vai sendo construído retrata de alguma forma as épocas, os estilos arquitetónicos que, por sua vez, retratam a vitalidade económica da época a que pertencem.
Deitar abaixo edifícios antigos em nome do progresso é o mesmo que apagarmos das nossas famílias os nomes dos nossos avós, a nossa identidade!
Sim, porque as cidades também têm que manter a sua identidade! Em meu entender é possível conciliar progresso/desenvolvimento com preservação de património identitário. É possível modernizar, mantendo elementos, fachadas que permitam que a cidade não se descaracterize.
Acho que esta cidade não é só pombalina! Temos um início de século XX importantíssimo que urge também classificar e preservar. Traduz o desenvolvimento industrial duma cidade virada para o rio e Mar, com uma indústria conserveira pujante.
Em breve teremos uma cidade só com edifícios pombalinos pastiche (cópias) e modernos que muito pouco devem à qualidade arquitetónica (que me perdoe quem as desenha)…
A História não pára mas também não se apaga!