"Do Algarve Que Temos à Região que Queremos"

No 66.º aniversário abrimos o debate e desafiámos algumas personalidades algarvias de vários setores e idades, para se pronunciarem sobre o muito que foi feito, mas também  sobre as estratégias e liderança que, em seu entender, conduzirão a um Algarve cada vez melhor

Algarve visto por Carlos Brito

1 – O JORNAL do ALGARVE tem orientado o seu trabalho, desde a sua fundação, com um objetivo muito marcado pelo desenvolvimento sustentado da região. Passados estes 66 anos de luta, como vê e sente o Algarve? Que avaliação faz do Algarve que temos? Quais são os seus principais problemas?
Carlos Brito
– O Algarve mudou profundamente nos 66 anos de vida do Jornal do Algarve. O 25 de Abril e a democracia criaram as condições para esta grande mudança. As alavancas institucionais foram o poder local democrático, a Universidade do Algarve e a CCR/CCDR, que contribuiu com uma visão de conjunto da região e com os sucessivos instrumentos de planificação. O turismo foi o motor do desenvolvimento e os fundos comunitários deram uma boa ajuda para o combustível. Todos os indicadores económicos e sociais, desde o PIB regional até ao poder de compra per capita, tiveram significativa melhoria. A população aumentou em mais cem mil habitantes. A juntar a tudo isto, deve ser realçado o papel da imprensa regional, notoriamente do Jornal do Algarve, que tem contribuído para aumentar o sentido crítico e reivindicativo da opinião pública algarvia. Ela é indispensável para que Algarve avance na justa abordagem e solução dos grandes problemas com que, apesar dos progressos enumerados, continua a debater-se. Antes de todos o problema da água. A região vive secularmente e anualmente a angústia da seca. As medidas tomadas são insuficientes e sobretudo de execução aflitivamente lenta. A desigualdade regional, pois nas grandes mudanças a serra ficou, quase sempre, para trás e a desertificação acelerou de forma muito grave. As acessibilidades, que não correspondem às necessidades de uma região turística, nalguns casos até regrediram, como na via férrea e noutros a espera leva décadas, como a ponte Alcoutim-Sanlúcar. A saúde, onde as estruturas não acompanharam o crescimento da população residente e flutuante, a falta de médicos e profissionais de enfermagem tornou-se crónica, o novo hospital regional, há muito prometido, mas sempre adiado. Há várias outras situações a pedir que se lhe acuda urgentemente.

2 – A liderança que temos tido e os representantes políticos, quer autárquicos, quer deputados, têm defendido e lutado o suficiente por esta região?
CB
– O êxito do poder local assenta, além das normas constitucionais e legais, no bom desempenho dos autarcas. Nem em todo o lado, nem com todos, terá sido assim. Mas esse é o panorama dominante. Quanto aos deputados: no meu tempo de parlamentar, os deputados algarvios eram conhecidos por estarem sempre do mesmo lado, independentemente do partido por que eram eleitos, quando se tratava dos interesses da região. Tivemos um papel decisivo, entre outros, em todo o processo da Universidade do Algarve, que foi criada pela Assembleia da República. Aí estive ao lado de Luís Filipe Madeira, José Vitorino e António Feo, entre outros. Dizem-me que continua a ser assim.

3 – Para que haja desenvolvimento, tem que haver uma estratégia. Que estratégia preconiza para a região?
CB
– A estratégia não é um palpite. Tem de assentar no conhecimento, novos estudos, discussão democrático. Há um largo consenso de que, a par do turismo, que é e será o motor da economia algarvia, se torna imperioso desenvolver outras aptidões próprias da região, em terra e no mar, para criar novas dinâmicas de riqueza e de emprego. O difícil é passar desta ideia geral para a realidade concreta. Sou um defensor da regionalização e da criação da Região Administrativa do Algarve. Aos meus olhos a estratégia passa por aqui.

4 – Fala-se muito em descentralização e/ou regionalização. Que tipo de liderança precisa o Algarve?
CB
– Dou os meus aplausos a todas as iniciativas sérias que tenham em vista a descentralização e alimento a esperança que venham a desembocar na regionalização.

5 – Há “massa crítica” capaz de revolucionar o Algarve, transformando-o, efetivamente, numa região diversificada, multicultural, onde é bom trabalhar e viver, com uma boa saúde e oferta cultural para além do sol e praia?
CB
– A experiência destes 66 anos, mostra que existe essa massa crítica e que se avançou muito, embora aos ziguezagues e com os grandes “buracos” que assinalei atrás. Acredito que o PRR vai ajudar a tapar alguns. Mas o que faltado é liderança. Essa seria assegurada pela regionalização, com os seus órgãos – Assembleia Regional e Junta Regional – eleitos democraticamente. Uma palavra final, para dar os parabéns ao “Jornal do Algarve”, neste seu 66.º aniversário, e desejar-lhe longa vida e muito sucesso.

*Renovador Comunista, ex-deputado pelo PCP

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