Ervilhas com ovos

Tenho uma teoria absolutamente javarda sobre a ligação de pessoas, em determinadas zonas, à guerra e aos combates. Bem podem vir especialistas, encartados em chatices fronteiriças, dar explicações com um lastro de toneladas de História, que essa é sempre uma parte (às vezes substancial, mas nem sempre) do problema. Outro dia li umas linhas de Eça de Queirós, sobre o que traduz o português (não só os que gostam de caldo verde, fados e Cristiano Ronaldo, como diria Marcelo Rebelo de Sousa), e que é o acto de comer, e eu diria, de comer e beber. Se todos (todos, todos, também não precisa) pensassem, como nós no jantar (pode ser no jantar de ali a três dias), enquanto almoçamos, penso que o desejo das concorrentes a misses, de um mundo sem guerras, estaria a caminho.

Tenho visto nos últimos tempos na imprensa generalista e pelo punho de alguns comentadores encartados, o caminho e a vontade de pôr os portugueses a beber e comer menos: parece que não somos sustentáveis. Diria que na comida há muitos caminhos para o céu e que a nossa a tradicional (ou ligeiramente modernizada) os conhece; talvez sejamos dos que mais apreciam partes menos nobres do peixe e da carne (só para lhes dar um exemplo) e que, só isso, será todo um programa de combate ao desperdício, ausente em muita a comida pop que vamos vendo. Dizem também as estatísticas que nós somos um dos primeiros a consumir álcool e que isso é fonte de uma grande quantidade de problemas. Como alguém muito antes de mim sugeriu, a estatística pode ajudar a distorcer a realidade. Nós (falo por mim) bebemos um copo de vinho ao almoço e um e meio ao jantar. Os digestivos também têm o seu pequeno lugar na (minha) dieta alimentar, mas tudo dentro da mais estrita legalidade, não vá alguém da brigada de trânsito passar os olhos por estas linhas. Não tendo cá o rapaz o exclusivo deste tipo de dieta, penso que mesmo assim poderei dizer que é substancialmente diferente de quem come uma sandes ao almoço, a marchar com um sumo ou uma garrafa de água e depois apanha, ao fim-de-semana, carraspanas de caixão à cova.

Ficam, lá os do norte da Europa, em casa a embebedar-se ou saem e pedem um Uber que, este sim, é um pormenor que nos devia assistir, diga-se em abono da verdade. Pelas razões que apresentei venho por este meio defender que guerra e alimentação têm os seus caminhos cruzados. Ou, como no caso do ovo e da galinha: quem nasceu primeiro, a paz ou a boa comida?

Olhando para a televisão a guerra na Ucrânia estará, no momento em que alinhavo este humilde texto, em estado vegetativo e não estando, o que é o mais provável, então é uma boa altura para percebermos melhor como as nossas opiniões estão dependentes da visibilidade que a televisão dá às coisas e nesse caso está cada vez mais presente a ideia, longe da vista longe do coração – ou da cabeça, já agora.

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