"Do Algarve Que Temos à Região que Queremos"

No 66.º aniversário abrimos o debate e desafiámos algumas personalidades algarvias de vários setores e idades, para se pronunciarem sobre o muito que foi feito, mas também  sobre as estratégias e liderança que, em seu entender, conduzirão a um Algarve cada vez melhor

O Algarve visto por Fábio Zacarias

1 – O JORNAL do ALGARVE tem orientado o seu trabalho, desde a sua fundação, com um objetivo muito marcado pelo desenvolvimento sustentado da região. Passados estes 66 anos de luta, como vê e sente o Algarve? Que avaliação faz do Algarve que temos? Quais são os seus principais problemas?
Fábio Zacarias
– O Algarve encontra-se num processo de crescimento para aquilo que será o futuro da região. Após o Abril de 74, despoletou um crescimento exponencial na área do turismo, que levou a um contributo económico positivo a nível nacional. Hoje, e dado o crescimento populacional que existiu desde então, a sazonalidade agravou-se e a fixação de jovens transformou-se num problema, pela falta de diversidade do mercado laboral, dificultando assim o desenvolvimento da região noutros setores que não o turismo.

2 – A liderança que temos tido e os representantes políticos, quer autárquicos, quer deputados, têm defendido e lutado o suficiente por esta região?
FZ
– Partimos desde já do pressuposto que a percentagem de deputados provenientes do Algarve na Assembleia da República é diminuto face a outras regiões do país, o que dificulta tanto execução de projetos como de verba presente em orçamento de estado destinada à região. Relativamente aos autarcas sinto que ainda existe uma enorme dificuldade em trabalhar em sintonia. Não afirmando que não defendem o suficiente a região, conseguimos percecionar que o trabalho conjunto não é efetivo, numa região com pouco mais de 400.000 habitantes, o que dificulta o trabalho em rede intermunicipal.

3 – Para que haja desenvolvimento, tem que haver uma estratégia. Que estratégia preconiza para a região?
FZ
– O desenvolvimento deve passar acima de tudo pela diversificação do mercado de trabalho, na criação parques habitacionais a custos controlados e num modelo de mobilidade que una a região e aproxime de forma efetiva a região como um todo. É necessário atrair a população nomadamente as faixas etárias mais jovens, seja no mercado de trabalho e acredito que a Universidade do Algarve possa ter um papel importante neste ponto no que concerne ao desenvolvimento de novas tecnologias e no processo de atração de empresas. Fulcral o preço habitacional ser mais competitivo face ao atual, que permita a fixação e a criação de famílias e sem dúvida que a mobilidade intermuncipal aproximará a região como um todo, permitindo que o recurso mais raro que é o tempo seja poupado, acima de tudo uma solução que passa pela eletrificação da linha férrea algarvia.

4 – Fala-se muito em descentralização e/ou regionalização. Que tipo de liderança precisa o Algarve?
FZ
– O país enfrenta um problema no que concerne à sua coesão territorial. Assistimos cada vez mais a uma desertificação das zonas fora dos grandes centros urbanos, nomeadamente as zonas do interior e litoral algarvio. Os desafios são imensos, mas de forma concreta e premente os acima mencionados: mercado de trabalho, habitação e mobilidade. Se somarmos as necessidades de Saúde, encontramos o cabaz que permite ao comum cidadão e jovem fixar-se. O ou os lideres que num futuro próximo assumirem a região, devem ter estes fatores em conta pois a descentralização só acontece se efetivamente existirem condições de vida para que possam desenvolver as suas vidas e criar as suas famílias.

5 – Há “massa crítica” capaz de revolucionar o Algarve, transformando-o, efetivamente, numa região diversificada, multicultural, onde é bom trabalhar e viver, com uma boa saúde e oferta cultural para além do sol e praia?
FZ
– Acima de tudo há uma necessidade premente de aproximar os jovens dos locais de decisão. É impensável olhar para as autarquias, para os deputados presentes na AR e assistirmos a um número residual de jovens com idade inferior a 30 anos. A geração mais qualificada de sempre, não decide, não participa mais que nos seus Conselhos Municipais de Juventude, Orçamentos Participativos e/ou associações juvenis. Que sentem em tantas ocasiões que as suas propostas “ficam na gaveta”. Acredito muito nos jovens, sei que existe um potencial enorme que pode contribuir muito para o amanhã da sociedade portuguesa e algarvia neste caso, mas é necessário que estes tenham a opurtunidade de dar o seu contributo para aquele que será o seu país, a sua região. Portanto, respondendo à pergunta, sim sem dúvida que existe “massa crítica”, simplesmente tem que ser melhor aproveitada e acima de tudo aproximada.

*Presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve

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